Todos sabemos que existem entraves à comunicação parental consciente que são obstáculos à comunicação, que não lhe permitem aceder à realidade interior do seu filho. A conexão é o ponto de base do sucesso na comunicação, pois permite estabelecer proximidade.
Os comportamentos dos adultos em várias situações, muitas vezes são desenvolvidos em “piloto automático”. Expressam-se da forma que os seus próprios pais se expressavam na sua infância ou aplicam o socialmente correto. Em muitas situações verificam-se comportamentos cheios de boas intenções, contudo provavelmente sem consciência plena dos resultados e impactos posteriores na vida e desenvolvimento das crianças.
Seguidamente vamos analisar oito obstáculos e refletir sobre o que representam e os ensinamentos que promovem.

1. Chantagem

A utilização da chantagem para obter o que se pretende é um método instituído e aplicado frequentemente numa educação inconsciente. O resultado imediato muitas vezes até corresponde à intenção “positiva” do adulto.
A criança aprende que todo o comportamento deverá ter uma recompensa ajustada ao que quer em cada momento, ou seja, capacidades como paciência, resiliência e altruísmo ficam difíceis de entender, assimilar e interiorizar.
Ensinamos assim que todo o comportamento está associado a uma recompensa exterior (autoconfiança).
Ex: se comeres a sopa dou-te um chocolate.
Será a chantagem o método mais eficaz?

2. Obediência

Neste caso a intenção do adulto é tentar controlar a situação, e criar soluções rápidas.
Mas o que a criança ouve de facto, é que ela não tem o direito de resolver os seus próprios problemas. Ensina a cumprir ordens.
Ex: “faz assim”
Engendra situações: a culpa não foi minha, foi de A que mandou.

3. Desrespeito

Ex: quando o adulto dá uma ordem como: “Vai arrumar o teu quarto, já!” num momento em que a criança está a ver desenhos animados na televisão.
Quando o adulto está a ver televisão, a criança acha normal interrompê-lo e buscar toda a atenção para si.
Quais os exemplos que lhe está a dar?
Será que devemos mesmo educar para a obediência que reprime o pensar?

4. Distrair

Neste caso a intenção do adulto é proteger a criança do problema, usando a tática de mudar de assunto ou tentar focar a atenção dela para outra coisa.
Ex: quando se leva a criança à creche e ela chora e diz-se que ela não precisa de chorar, pois não é algo grave.
Esta atitude a menoriza os sentimentos da criança, dando-lhe a entender a ilegitimidade dos mesmos e transmite-lhe a ideia de que ela não é capaz de lidar com situações e sentimentos desagradáveis.

5. Adulto Enciclopédia

O “adulto enciclopédia” é aquele que sabe tudo e explica tudo até ao mais ínfimo pormenor. Assume-se que as crianças sabem muito pouco e quem sabe são os adultos.
Estas dissertações são sempre subjetivas, e quando isto acontece o estimulo à descoberta e à aprendizagem torna-se muito baixo ou quase nulo.

Ex: explicar tudo com máxima informação. Aqui a intenção do adulto é mostrar à criança que ela tem um recurso disponível para resolver todos os problemas, o pai a mãe, a educadora, avó, avô – o adulto. Mas o que a criança ouve é que se eles sabem tudo, então ela não sabe nada.
Seria mais interessante se os adultos escolhessem explorar em conjunto com a criança estas questões.

6. Opinar\Aconselhar

Neste caso, a intenção do adulto é influenciar a criança através de argumentos e opiniões. Mas o que a criança entende é que ela não é capaz de encontrar as suas próprias soluções.
Ex: A criança está a contar uma passagem do seu dia, por exemplo, “durante o intervalo o meu colega bateu-me e eu não lhe fiz nada”.
Adulto: “O quê! Tu deixas que te batam e não te defendes?”
A conversa tem tendência a terminar por aqui.
Quando se consegue ouvir sem opinar/julgar/aconselhar, a conversa tem tendência a continuar e a ligação parental a ficar mais fortalecida.
Alternativa: “Podes explicar melhor o que aconteceu? O que sentiste quando o teu amigo te bateu?”
De seguida manter a conversa, privilegiando as opiniões e soluções da criança.

7. Ironisar

A intenção do adulto é demostrar à criança o quanto o seu comportamento é errado fazendo-a sentir-se ridícula. Esta por sua vez entende que ela de facto é ridícula.
Quando por algum motivo a criança chora o adulto diz:
“Isso lá é motivo para chorar!”
Aqui a verdadeira razão que origina o choro não é respeitada e a criança aprende que quando a emoção se manifesta pelo choro ela não é válida. A emoção é reprimida e todos os efeitos negativos deste comportamento são por ela interiorizados.

8. Desconfiar

O comportamento de desconfiança “fere” a autoestima, cria desconforto e desalinhamento interior.

Ex: um certo dia, o João, de 9 anos estava a jogar no computador ao final do dia e o pai, Raul, estava mesmo cansado e queria ir dormir. Como o João queria terminar o seu jogo, Raul decidiu combinar o seguinte com ele:
Raul – “Tudo bem João! Eu estou muito cansado vou deitar-me. Tu ficas a jogar e quando terminar esse jogo vais dormir, combinado?”
João – “Sim, pai.”
O pai foi dormir e o João ficou a terminar o jogo.
Na manhã seguinte o Raul levantou-se e ficou à espera que o João se levantasse a horas, o que aconteceu sem qualquer problema.
Neste caso o pai apenas reforçou a confiança que tinha no filho.
Raul – “João, ontem deixei-te tomar conta de ti e tu deitaste-te a horas. Estou muito orgulhoso de ti!”
No caso desta situação ter um desfecho diferente, como por exemplo o João ficar no computador até tarde e na manhã seguinte ter tido dificuldade em acordar.
A proposta consistiria então:
Raul – “Reparei que aqueles 5 minutos de ontem, fizeram muita diferença no teu acordar hoje. Temos de evitar esses 5 minutos a mais, concordas?”
Mesmo quando o João teve um comportamento desviante, comunicamos sem desconfiar.
Este comportamento cria uma motivação extra para cumprir mais da próxima vez, pois para qualquer pessoa “quebrar” a confiança é um ato emocionalmente desconfortável.

Artigo retirado do livro- Educar para a VIDA- Guia Ilustrado de Linguagem Parental